- Conforme a definição do dicionário Michaelis, luxo é "magnificência, ostentação, suntuosidade, pompa, etc.".
- Em 1 imagem, luxo é isso aí...
- Mas quando suntuosidade, economia e comportamento se misturam, o que pode efetivamente ser classificado, vendido e consumido como "luxo"?
- O "luxo" deve investigar, compreender e traduzir o “zeitgeist” (as manifestações comportamentais que acontecem agora!), porque...
“Evoluir é continuar a respirar criativamente.”
Martin Margiela
- Iniciado no final do século XX, o fenômeno chamado de “globalização” consolidou-se no século XXI.
- A Internet viabilizou um “artigo de luxo”, antes disponível apenas à uma minoria: o “real time”.
- A partir daí, o mundo virou uma aldeia!
- O poder dessa nova comunicação afetou diretamente o setor de vestuário (“moda”) de luxo de duas formas:
- Uma positiva, por levar a informação a mercados consumidores longínquos.
A Rússia, agora, é “logo ali”. - Outra negativa: a divulgação “massificada” originou o surgimento de “clones”.
- Um bom exemplo são as “fashion weeks”: enquanto a “top fashion” desfila, “espiões da “fast fashion” fazem seus “croquis”, acelerando a obsolescência do ciclo da moda.
- Por outro lado, para uma platéia não só informatizada, mas refinadamente informada, o “luxo” permanece inimitável.
- A "impressão digital" do luxo (ou DNA) é percebida porque (a esta platéia, ao menos), da matéria prima ao acabamento, existe refinamento. Que luxo!
(Costumo responder a quem me pergunta como saber se a “LV” dependurada no ombro de alguém é falsa ou legítima que basta analisar o “conjunto da obra”: se o “esmalte” das unhas do “cabide” destoarem, a peça é tudo, exceto “vera”).
- Mas o fato é que, no último século, a moda popularizou-se. Paulatinamente.
- Entre o “trickle down” do começo do século XX ao “bubble up” dos anos 50 e 60, os criadores de moda que também se dedicaram à administração do seu negócio realizaram que todos desejavam consumir o “luxo”, cada um à sua maneira (para uns muitos “luxo” significa água limpa, enquanto para outros poucos “luxo” traduz-se por um Jaguar personalizado).
- Que o local na pirâmide social onde a aristocracia milionária aloja-se é no topo sim, onde o espaço é reduzido.
- E caso produzir para a base não seja o objetivo (posto que conflitante em termos de estilo criativo, no mínimo), há uma camada intermediária nesta representação geométrica que pode viabilizar financeiramente o seu “business”.
- Em outras palavras, o “prêt à porter” e, mais recentemente, os acessórios.
- Muitos “designers”, porém, apesar das mudanças no panorama cultural e/ou econômico, continuaram a focar-se exclusivamente na criação, percebendo, talvez tarde demais, que tinham preservado o prestígio. Enquanto acumulavam prejuízos.
- Marcas consolidadas deficitárias foram, então, adquiridas por “holdings” financeiras, “experts” em traçar estratégias de marketing baseadas em planos de negócios.
- Que ao mesmo tempo em que cerceiam, orientam os diretores de criação (a “alma” da grife) para que cheguem a excelência do resultado contábil: o lucro.
“Aprendi em meu trabalho que o que não vende não é moda...”
Tom Ford
- Com a força desses conglomerados, estratégias de marketing globalizadas foram claramente definidas.
- Cujo vetor principal é a comunicação.
- Dos desfiles de “haute couture” (na verdade, uma propaganda institucional, um “abre alas”) às “celebridades” (top models, cantoras, editoras de moda "vips" e afins) performando um discretíssimo “merchandising” nas passarelas da vida, clicadas por “paparazzi” ou não, usando “ou isso ou aquilo” “by ABC ou XYZ”, há comunicação.
- Investimentos pesados num mundo globalizado repleto de preferências locais, divulgam, ensinam e atiçam gente ávida pelo ter para mostrar, como quem diz “você sabe com quem está falando?”
- Aliás, o porto do luxo emergente localiza-se num "lugar" chamado "BRIC" (Brasil, Rússia, Índia e China).
- Que sentindo pré-poderosa, divulga aos “quatro cantos” que encontra-se na lista de espera da edição limitada da bolsa "it".
- Paralelamente, Rei Kawakubo, estilista responsável pela “Comme des Garçons”, diz que, quando sai à noite, carrega apenas o essencial em sua "bolsa preta sem nome".
- Que a moda, para os puristas, padece há tempos de um vírus (letal?) chamado “banalização” é fato.
- Mas mesmo aqueles que não têm saudade dos áureos tempos quando “exclusivo” era, de fato e de direito, único ou muito limitado, percebe que a função da moda tornou-se um grande teatro.
- Estilistas conceituais como Rei Kawakubo promovem questionamentos de comportamentos padronizados através de suas peças.
- Desconstroem até mesmo o conceito de que a moda tem de ser bela.
- Fenômeno recente, o consumidor contemporâneo pertence a uma época em que a economia no primeiro mundo tangenciou a depressão, mas que permanece no limiar da recessão. Em seu cérebro, uma frase não quer calar: “todo o cuidado é pouco.”
- A “débâcle” econômica acontece num momento em que consumidores estão procurando voltar os olhos para si mesmos.
- Este sujeito não admite a classificação de “hiper consumidor” (aquele que "olha para os outros").
- Para o “neo consumidor”, seu bem estar é o que importa.
(Muitas afirmam que 1 “lipo” vale mais do que 2 “LVs”...)
- O luxo atual é, inequivocamente, personal.
- Para muitos (e cada vez mais), produtos ecologicamente corretos são o “luxo”.
- E não se importam em pagar - logicamente mais – por “ele” (o luxo).
- Para determinado grupo, o visom assinado por YSL é luxo; para outro, as “faux fur” de Stella McCartney são “übber”.
- O primeiro grupo é regido apenas pela estética; o segundo, prima pela ética.
- O luxo não acabou e nem acabará enquanto a roda continuar girando.
- Afinal, é da natureza humana, comprovado pelos antropólogos, que o homem busca diferenciar-se: seja para impor hierarquia, ou para adequar-se à tribo que pertence ou à qual almeja pertencer.
- Portanto a tradução do que é o “luxo" é mutante por natureza, como “nosostros”.
Comme des Garçons
- Será que, daqui para frente, os dicionários - a fim de permanecerem divulgando informação atualizada, portanto relevante, deveriam acrescentar mais um significado ao léxico "luxo": “preferência pessoal”?