"Sempre dizem que o tempo muda as coisas,
mas, na verdade, é você quem tem de mudá-las."
Andy Warhol
- Por mais que a genialidade dos designers seja ovacionada, uma coisa é certa: o insumo de suas criações são as matérias primas disponíveis. E mesmo quem pode “bancar” o desenvolvimento de produtos exclusivos esbarra em outra barreira do processo criativo: a democracia da informação.
- Um exemplo recente (2004) foi a força que o filme “Titanic” exerceu sobre as coleções de top grifes (Chanel, Valentino, Prada, etc): suas coleções foram desenvolvidas sobre (o austero) tweed. Rejuvenescido pela companhia do “forever young” jeans.
- Karl Lagerfeld repaginou um estilo clássico (o andrógino, mix de masculino e feminíssimo), popularizado por Coco Chanel entre 1950 e 1960, utilizando um tecido antigo (popular na Inglaterra, nos idos de 1890). (3)
- Popularidade é sinônimo de aceitação avassaladora. As celebridades espelham o conceito.
- Ser popular é ser consumido por muitos e desejado por muito mais gente. É “alcançar o estrelato”.
- A despeito do glamour, grifes são produtos e designer são empresários; ou funcionários.
- Objeto de consumo, algumas vezes condecorada com o título de “obras de arte”, “moda” é feita para vender, e o objetivo da venda não é o prejuízo: é o lucro.
- O alvo da novidade do agora, do ponto de vista financeiro, é o reconhecimento popular.
- Desde que no devido tempo...
- Segundo Karl Lagerfeld a cópia (que ele, gentilmente, chama de homenagem) é um fato normal. Que deixa todo o mundo feliz: quem compra o “genérico” lucra no preço, quem consegue pagar pelo original lucra, inclusive, na embalagem...
- Marcas consagradas sabem que apenas a camada que ocupa o ápice da pirâmide social não sustenta o negócio. Por isso muitas grifes têm uma segunda marca: mais popular, mais repetida, mas nem por isso de qualidade inferior.
- Para Donna Karan, o know how da marca top (a DK) está presente na DKNY, sua “marca de difusão”.
- O estilista Michael Kors informa: “dinheiro não determina o gosto”.
- No entanto, por mais que o ciclo da moda (como o da vida?) tenha uma curva previsível (novidade-aceitação-consumação-rejeição), o processo está sendo acelerado. A obsolescência (programada?) acontece à revelia do “bom e velho” padrão (“alguma coisa está fora da ordem mundial” ).Culpa, a princípio, da velocidade e da democratização da informação facilitada, em última instância, pela Internet.
- Se as revistas “educam” democraticamente os consumidores, elas também aceleram o processo de vulgarização de uma tendência.
- É como se o ciclo da vida passasse da infância à senilidade, sem mesmo deixar espaço às lembranças.
- Os vestígios desvanecem num piscar de olhos. Ou de celulares.
- Didier Grumbach, presidente do sindicato de alta-costura e prêt-à-porter francês, disse, em 2003, que pretendia vetar a cobertura da imprensa nas semanas de moda na França.
- Motivo: os “espiões” das redes de “fast fashion” reportam as tendências dos desfiles, em tempo real, aos empresários de lojas populares, que as disponibilizavam, muitas vezes mais rapidamente, do que seus criadores.
- Atitude antidemocrática? Não, esta parece mesmo ser a única saída.
- Afinal, permitir a “cola” é um ato “kamikase”.
- Sem dúvida alguma, a moda, desde a época em que era apenas uma indumentária, reflete a cultura, a geografia, a economia e a história ao longo do tempo.
- Dizer que a humanidade veste-se por pudor não é totalmente plausível, afinal muitas são as modas destinadas a despir: da renda ao topless, passando pelos decotes, mini saias e corsets.
- Dizer que a roupa tem a função de proteção também não responde 100% à questão: sob frio ou calor intensos, as sociedades divergem quanto à solução de problemas tão diversos.
- Há quem jamais descubra a cabeça (e.g. burca), há quem sempre opte por peças que, efetivamente, desprotegem (e.g. salto alto) o corpo, ou parte dele.
- A moda é, de fato, uma forma visual dos consumidores expressarem a vida que vivem. E as mudanças decorrentes.
- O espartilho – sinônimo recente de roupa de cortesãs – era símbolo de status até que o estilista Paul Poiret, nos anos 20, enterrou a peça torturante, libertando as mulheres do seu tempo.
- Na moda masculina, a camiseta branca foi usada sob as camisas até virar top, via os “rebeldes sem causa”, como Marlon Brando no filme “Um Bonde Chamado Desejo” de 1951.
- A popularidade da arte contemporânea confirma que as mudanças do estilo de vida refletem-se no que é classificado pela sociedade como “moda”: moderno, aceitável, desejável, aplaudível e consumível, se possível (e.g. o grafite, antes vandalismo, hoje interferência na paisagem urbana exposta em museus).
- Atualmente, é grande o número de “free lancers”: esta gente, que trabalha em casa, vai investir em “n” “tailleurs” e ternos ou em roupa casual mais decoração e arquitetura, privilegiando seus gastos em closets e “home offices”?
- A moda, no sentido estrito, deve refletir o tempo de quem a utiliza.
- Se antecipada, não consegue ser entendida (e nem poderia ser chamada de “moda”); se postergada, é rejeitada (ganhando o título de “démodé”, “fora da moda”).
- No final das contas, a moda é, "noves fora", o espelho da atualidade.
- Mas a forma tem de ser mudada. No momento, a forma como se apresenta parece estar fora de ordem...
- Fontes:
- Isto É (Karl Lagerfeld-Chanel (2004)