Embora muitos não percebam, a moda - ou a evolução dela - é tech.
Quem acha que, na hora da compra, olhar a etiqueta não passa de futilidade, provavelmente vai mudar de idéia e concluir que...
a etiqueta é a alma da roupa!
Nela constam, por determinação do InMetro (orgão regulador inclusive dos produtos têxteis) informações relevantes sobre a composição e a conservação dos artigos que colocamos sobre a nossa pele.
E o que nos veste é feito de secreções, proteínas, celulose, petróleo e tecnologia.
Moda e tecnologia andam juntas e o progresso da 1ª depende do avanço da 2ª.
Não entendeu? Tentarei explicar, até porque passei quase a tarde inteira estudando tecnologia têxtil.
Longe do glamour das formas, a matéria é teórica - para muitos "chata" - mas de uma coisa ninguém discorda: sem entender o comportamento das fibras (e dos filamentos) os estilistas se arriscariam a construir pontes (ou prédios) que... desabam!
As fibras e os filamentos ("tijolos" pequeninos ou enormes, que formam os fios que constroem os tecidos) estão para as roupas assim como os materiais de construção estão para a engenharia e a arquitetura.
Grosso modo, há 2 tipos de matéria prima têxtil: as naturais e as químicas.
As químicas dividem-se em artificiais e sintéticas.
Naturais são as fibras de origem animal, vegetal e mineral.
As "man made fibre" são artificiais, produtos de laboratório "feitos pelo homem" a partir da celulose.
As sintéticas (synthetic man made fibre") - também laboratoriais - têm como base os derivados de petróleo (polímeros).
A busca pela fibra perfeita (que, assim como a vida, praticamente não existe na natureza) é parte da rotina dos cientistas que trabalham para a indústria têxtil.
Se uma fibra encolhe muito (como a lã, devido ao seu alto percentual de porosidade), misturá-la ao poliéster pode evitar, por exemplo, o amarrotamento (que nada mais é do que o encolhimento da fibra).
Mas se a mistura é excessiva, o problema não é corrigido: troca-se, na verdade, o 6 pela "meia dúzia".
Daí a importância da "mistura ideal (na qual apenas 1/3 do total é composto pela fibra/filamento "atenuadora", que corrige, mas não corrompe as vantagens da fibra "master").
Outro fator importante são as propriedades químicas das fibras, como sua reação aos ácidos e aos álcalis (futuros estilistas: não "matem" as aulas de química, elas têm um "fashion" poder"!).
As fibras celulósicas (como o algodão, o rami, o linho, etc.) não resistem aos ácidos. Sofrem corrosão.
Mas quando "misturadas" a fibras químicas, criam o DEVORÉ, que não é um tecido: é uma técnica de estamparia.
(Cuidado com a flocagem, um "devoré fake", na verdade uma... colagem).
Os álcalis (ou bases) não atacam fibra alguma: ao contrário, as limpam (o sabão é um bom exemplo).
E são responsáveis pelas diversas e modernas técnicas de lavagens do seu, do meu, do nosso "jeans".
E pela lavagem a seco (útil na limpeza de artigos que sofrem encolhimento, como a lã), que, graças à ação dos ambientalistas, baniu o percloroetileno e o fluorcarbono, utilizando, atualmente, o hidrocarbono.
Dentre os progressos têxteis impulsionados pela tecnologia, há tecidos "tão resistentes quanto o aço ("Kevlar"), anti odores (acetato de celanese), os que promovem aumento de capacidade sensorial ("smart clothings"), perfumados ( "esprit de fleur"), térmicos, transpirantes ("Coolmax"), não incendiáveis ("Nomex" e "Clevyl"), biodegradáveis, algodões que nascem "coloridos", fibras com protetores solares, anti stress (a fibra terapêutica, parceria da Lineapiú com a Basf), etc.
Portanto, da próxima vez que você for às compras, fique atento ao poder da... etiqueta.
Imagem: InMetro
Livro: "Fibras, Filamentos e Fios", de Jorge Palma