INFO 3C __________________________ COOL & CULT & CUTE. DAQUI, DE LÁ OU DE QUALQUER LUGAR
.

SURFACE DESIGN by DBStudio

fevereiro 05, 2013

Dress Code

Uniforme: código, preconceito ou...  moda?

Desde que "o mundo é mundo", as pessoas deram e dão um jeito de se diferenciar das outras.
Estar na moda - ops, ter estilo - é ser diferente de alguns no intuito de pertencer a determinada tribo...
Nas sociedades ditas "primitivas", era e é natural o Cacique e o Pagé - provavelmente os mais "espertos" do grupo - tal qual um pavão quando está "na pista", "emperuarem-se".

Autoridade: conquista, ilusão ou imposição imagética?

Na Idade das Trevas, as cores falavam - e condenavam.
À época, as leis suntuárias regulavam o consumo (cor e tipo de roupas, peles, tecidos e acabamentos, etc.). 1
Transgredi-las era infâmia. Legitimamente punível.
O material histórico sobre os signos é vasto e não há como negar que formas, adereços e cores tem, há tempos,  a função de comunicar, inclusive a famigerada distinção social.
A moda é, de fato (e muito sucintamente), o culto às fantasias, às extravagâncias, um fenômeno emergente e coletivo, conforme Gilles Lipovetsky ("O Império do Efêmero" - Cia. das Letras). 2

A cultura das aparências pré conceitua. Infelizmente (lembram do "case" de um violinista solitário, vestindo polo/jeans/ tênis, tocando "for free" no Grand Central Terminal, ignorado pela multidão que ia e vinha, na realidade um músico conceituadíssimo, solista de uma orquestra cujos ingressos (caros mesmo!) estavam esgotados?
O artista, na verdade, protagonizava uma pesquisa sobre o valor do "vil metal".

Hoje, e por aqui, o código "normal", no caso da noiva, é vestir-se de branco (já foi de verde, de vermelho... mas dependendo do tempo e do espaço cultural, o signo muda).
(Neste tempo) Advogados usam terno (ops, costume, já que o colete foi praticamente "deletado" neste país tropical) e advogadas, tailleur (o comprimento da saia é midi, não mini); dentistas vestem branco ou verde (cor associada à limpeza); marinheiros no princípio do século passado usavam camisas listradas (o uniforme dos trabalhadores virou um clássico (navy) pelas mãos - na verdade os olhos e o cérebro sempre atentos - de Chanel.
As batinas dos padres são pretas, as dos Franciscanos, marrom, o sumo Pontífice usa vermelho, Pais e Mães de Santo, branco. O Dalai Lama veste-se de vermelho e amarelo.
O uniforme dos funcionários da limpeza pública é laranja, e o marketing explica: o laranja é a cor da atenção (é energia!).
O maitre do estabelecimento, faça sol ou chove chuva trabalha de terno, mas o dono da "birosca" ou do "bistrô" vai de jeans...
Mistério (sábio ou absurdo?) o que reside nas entranhas do cérebro humano...

Foi-se o tempo em que o black era o tom do luto: hoje, comparecer a funerais em branco/marfim/pérola está "fashion": são "cores de luz".

Rosa é "feminino", lilás é "gay", preto é "gótico"? Reveillon é branco (na Itália é vermelho, e na Rússia também)?

Poderia, quem sabe, ficar muito mais tempo aqui escrevendo sobre o signo das cores e a simbologia "efêmera" da aparência nas sociedades desde que "o mundo é mundo", mas os caros leitores "não merecem". Nem eu ; > )


Mas por que será que eu resolvi, hoje, gastar tantos cliques e tanto tempo falando sobre o "peso" das formas e das cores e no tal do "dress code"?
Porque, novamente, mais uma vez, e de novo, li mais uma nota sobre o mesmo velho evento:

Babás fardadas Frei David dos Santos, da ONG Educafro, esteve reunido sexta com a promotora Gláucia Santana. Foi discutir a representação contra os clubes de lazer cariocas Paissandu e Caiçaras, a quem acusa de “discriminação racial e social”, por proibirem a entrada de babás não uniformizadas.
O MP vai ouvir os presidentes dos clubes e a Educafro fará ações semelhantes em outros Estados
3

Independentemente de ser ou não ser sócia do Paissandu (PAC, para os íntimos), não entendo o porque de tanto "furdúncio midiático". Tanto o PAC quanto o Caiçaras são clubes (grupo de indivíduos livremente associados.. mais na Wikipedia.) regidos por regras, tal e qual qualquer associação.
De fato, nem todas as regras do estatuto agradam a todos os livremente associados. 
Agradar - ou enganar - a todos, sobre tudo, o tempo inteiro é, segundo a estatística, missão impossível!
Por isso, quem não concorda, ou radicalmente se desliga da associação, ou propõe, democraticamente, mudanças no status quo.

Pelo que entendi do que li, na casa de uma sócia do PAC (a excepcional atriz, e também escritora, Fernanda Torres, cuja babá dos filhos foi "barrada" na portaria do clube por não estar uniformizada, ano passado 6) os funcionários não usam uniforme. 
Na minha casa também mando eu ("pra fazer silêncio eu berro, pra fazer barulho eu mesma faço..." 7) mas no quintal da casa da minha sogra e no prédio em que moro, no, no, no! Se não concordo com as regras do "comum", sujeito modestamente minha opinião à assembleia. E que vença a maioria, goste jo, ou não. 
Tal qual eleição "presidencial/deputacional/governamental/vereadoral":ainda que aviltados com o resultado, "entube-mo-lo".

O uso - ou a demanda pelo uso - de uniformes funcionais é fruto/culpa? das regras do "sistema".
Além de uniformes, o Mr. "Sistema" tem por hábito demandar a tal da  Ms. "Postura".
Quando pego um taxi, mesmo sabendo que não estou no comando da "máquina", não me sinto na obrigação de concordar com qualquer velocidade, com qualquer e a qualquer volume "fundo musical" e nem com qualquer "conversê". Isso é discriminar ou sistematizar?
Mesmo sob +40º sob ar condicionado quebrado, ser atendida pelo dentista de sunga (no consultório) me espantaria!
Entrar num avião e não saber a quem me dirigir - tá todo mundo igual - se quero um copo d'água ou preciso de um copo de whisky seria um complicador. Para mim, ao menos.
Assistir ao BBB (eu não assisto 5, mas hoje estou divagando) e sentir-me aviltada pelos partipantes sempre em trajes e enredos "calientes" seria um insulto à minha inteligência. Respeitar o "dress code" é preciso, e no caso do programa, menos é mais.
De fato, numa associação, a necessidade objetiva de todos estarem identificados (ie. que todos distinguam-se à distância, o popularmente "quem é quem") poderia - por que não? - ser dispensada.
Digo: poderia, não acho que deveria - uniforme é funcionalidade, não é?
Se garçons e maitre estiverem "à paisana", a vida fica mais difícil...
Então, que se proponha à tal "comunidade" uma nova visão, um novo comportamento, que se faça essa "tribo compulsória" enxergar a "nova" modernidade.
E que o proponente se digne a aceitar um sonoro e democrático "não". Se este for o veredito da maioria.
E que nesse caso, se for a vontade pessoal, que a "modernidade" vá buscar pelos seus pares, se isso for mesmo tão mais importante assim, em outro lugar ("cada um no seu quadrado" - ou "fora da caixa").

PS: lá no clube, tem uma regra que eu execro (e confesso: de vez em quando, discretamente, transgrido feliz): "jornais e revistas só podem ser lidos dentro da biblioteca" (acabei de levar uma bronca da minha Mãe!) . Ficar confinada no "quadrado" é mega chato, os jardins são tão lindos... (ok, Querida, faço mais não). Enviei uma reclamação/sugestão ao Conselho Administrativo. Enquanto a resposta não vem, levo a minha própria revista de casa, e leio aonde bem quiser ; >)

W
Parafraseando Tom Jobim... 
A democracia é "uma porcaria", mas é legal, já o resto é legal, mas é "uma porcaria".
Obs.:
1. http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_suntu%C3%A1ria
2. http://mail.companhiadasletras.com.br/trechos/80124.pdf
3.http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/
4. http://cem.revues.org/9852
5. Assisto, ops, sigo!, "Mulheres Ricas": uma sátira aos "nouveaux riches" de hoje e sempre.
6. Conforme o estatuto do clube, a partir de determinado nº de convidados, o ingresso dele(s) é cobrado dos sócios. Prestadores de serviço devidamente uniformizados não "contam" como convidados, ou seja, o acesso deles é grátis.
7. Jardins da babilônia (Rita Lee)

Pele alheia, pra mim, é morte; pro "sistema, ainda é Vogue... Hello!