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SURFACE DESIGN by DBStudio

abril 29, 2010

Custo x Valor: Dilema do Consumidor

  • Conheço uma criatura que avisa que odeia, com todas as letras e números, lojinhas de "X e noventa e nove"!
  • Mulher consciente, antenada com o sucateamento precoce e programado dos bens, ela pergunta a si e a todos, o tempo todo:

"Qual é o destino das coisas?"

"Pra onde vai o lixo?"

"Como as coisas funcionam?"

  • Porque o planeta é finito, a cada vez que as "deletamos", as "coisas" vão parar em algum lugar e não há, ainda, usina de reciclagem que de jeito (ou destino nobre) neste "chorume" produzido pela nossa sociedade de cultura de consumo.
  • A "racional consumidora" explica que lojinhas "baratosas" vendem aquilo que custa barato, dura nada, satisfaz pouco e vai pro lixo rápido.
  • Que tais "entrepostos" são "nefastos": lá, a gente não compra o que gosta ou precisa: compra o barato. Que sai caro! Afinal, o planeta "somos nós"!

(Olha aí um jargão bom, bonito, mas... caro!)

  • Ela também não se conforma com os preços das grifes. Não entende como uma T-shirt custa "x" numa loja e "10x" em outra. Segundo ela, as Ts são "iguaizinhas!".
  • Mas não são não, querida. Tudo tem um porquê na vida.
  • O preço é diferente porque o custo é diferente. O valor é outro, mas este a gente muitas vezes não vê.
  • Hoje, assisti a uma palestra, na Casa França Brasil, da equipe de criação da Osklen: marca carioca de nascença, cosmopolita por vocação e cultura.
  • O diretor criativo e sua equipe, generosamente, explicaram o processo de criação da última coleção (Trópico de Capricórnio) especialmente, à platéia.
  • Desde a geração do "tema" até o produto final colocado nos pontos de venda - próprios ou não, no Brasil e no exterior.
  • O "start" de cada coleção parte das viagens, das andanças, da vivência de Oskar Metsavaht, diretor de criação.
  • Depois do briefing, sua equipe "rala", inclusive testando formas até chegar ao resultado final.
  • Detalhe: a trilha sonora dos desfiles é cria da casa, inédita até o dia D!
  • Isso tudo custa. Inclusive tempo.

(Cultura e tempo, bens valiosos...)

  • Aí reside a diferença entre o custo e o valor.

Certas coisas custam, outras valem.

  • Se cabem ou não no bolso é uma outra história.

PS: promover o desenvolvimento sustentável é uma das missões da Osklen, há tempos (vide o Instituto e).


Imagem: Osklen

abril 28, 2010

Alice Tridimensional

  • Ao cair "naquele" buraco, a heroína Alice (re) viveu uma vida instigante, possível, em tese, somente em seus sonhos...
  • Mas, afinal, qual seria o real significado do buraco?
  • Fantasia infantil, "viagem" do inconsciente, aonde estava Alice?

  • Melhor: aonde estava a cabeça de Lewis Carroll, seu criador, em 1865?
  • E: como este clássico desnorteia as respostas até hoje?
  • Somos todos "alices"?

A definição do que é a realidade e do que é sonho continua sendo um grande mistério...

Quando sonhamos, estamos em "outra dimensão?

  • Quem já ouviu falar em 3ª dimensão? Todo o mundo.
  • De 8 (ou menos) a 80 (ou mais), a tridimensionalidade - ou 3 D para os íntimos - é, como todos os clássicos, uma eterna "novidade".

  • Espacialmente, a 3 D está presente na perspectiva: ilusão de ótica que transforma o "flat" em perto e longe: via luzes e sombras, e perpendiculares tendendo à linha do horizonte, como pode ser observado nas pinturas a partir do Renascimento.

  • A 3D permite que vejamos, numa simples folha de papel (coisa 2D), largura, altura e... profundidade.
  • Os tecidos também.
  • Roupas são construções em 3 D: do pano - objeto simplesmente largo e alto - manipulado com folgas costuras, pregas, pences e excessos surgem estruturas ocas, mais, ou menos volumosas.

  • Outras ciências se ocupam desde há muito em estudar a trimensionalidade, mas recentemente ela invadiu especificamente a tela.
  • Na tela "flat" dos cinemas, a versão dos filmes em 3 D é a febre atual.
  • Hoje, fui assistir a "Alice" de Tim Burton e voltei extasiada.

  • Menos pelos efeito tecnológico neste filme especificamente (surpresa zero, pois já tinha ouvido que a equipe de Burton se "atrapalhou" com o equipamento usado com "tranquilidade" por James Cameron em Avatar), mas com a capacidade desta tecnologia transformar a nossa visão (o efeito nos curtas - da Pixer, em especial - exibidos antes do longa são fabulosos!).
  • A história desta Alice, claro, não conto, mas além de figurinos, maquiagem e história rica, a cereja do bolo é Mr. Johnnie Deep confeitada pela mente excepcional - sorry, sou fãzoca! - de Burton.

  • Entre tecnologia, "lisergias" e densidade cinematográficas surge a Miss Moda.
  • Que sofre, sina deste momento (tecnológico, científico, histórico) , uma grande mudança.
  • Porque, depois do "new 3D", a moda jamais será a mesma.


Verdade? ... ou ... Mentira!

  • Esta senhorita (a Moda) é cíclica, retornará ao "flat".
  • Só que daqui a algum tempo.
  • Tudo a seu tempo...

PS:

  1. Alice (dizem que o nome significa): "pessoa extremamente sincera mesmo quando isto pode custar-lhe uma amizade. Tem o dom da liderança."
  2. Imagens: Google
  3. Releitura agendada: "O mundo de Sofia", de Jostein Gaarder.

abril 26, 2010

RococOver e Outras Modas

  • A moda, apenas recentemente, passou a ser considerada um fenômeno cultural.
  • Mas muita gente ainda não acredita: roupa é cultura?
  • Para entender melhor um fenômeno presente, costuma ser útil investigar o passado.
  • E assim a gente descobre, tantas vezes, que o fenômeno é bem antigo.

Para melhor entender como e porque nos vestimos, voltemos no tempo, mais precisamente ao século XIV.

  • Da pré história à Idade Média, viviamos na Era dos Costumes.
  • Havia diferenças sim: gregos, persas e sumérios, por exemplo, vestiam-se diferentemente.
  • Mas tais diferenças classificavam uma cultura, uma sociedade, não o indivíduo. E duravam séculos...
  • Até a 1ª metade do séc. XIV, cultivava-se a antiguidade, a tradição.

  • Na Idade Média, chamada "das Trevas", de cultura Teocentrista, o foco estava na alma, no tecido.
  • Homens e mulheres trajavam túnicas (era a moda... "unissex"?).
  • Mas a partir da 2ª metade do séc. XIV, a sociedade passou a privilegiar o estrangeirismo, a novidade (naquela tempo, ela já "era o máximo").

Motivo: desbravamento do novo mundo, via Cruzadas no oriente (globalização não é fenômeno recente) e a queda do sistema feudal de onde se origina a burguesia (a classe média é o motor da econômia desde então).

  • Das trocas comerciais emergem paradoxos: nas formas dos corpos dos diferentes sexos, na aparência, na individualidade, enfim nos trajes diferenciados para homens e mulheres.
  • Na moda masculina, o básico significava gibão (blazer), codpiece (roupa íntima), meias colantes e calção (na verdade, um short ou bermuda modelo... "ciclista").

  • Na moda feminina, roupas ajustadas e decotadas, viva a modelagem!
  • Nascia assim a moda, um painel de...

Signos - Fantasia Estética - Construção de Aparências - Visualidade

  • A aparência foi uma vitrine da alma Renascentista, que consolida-se no século XVI.
  • Sua 1ª fase é chamada de CLARA.
  • Nela, o homem é um intérprete da realidade onde os horizontes expandem-se.
  • Tal expansão no guarda roupa traduz-se em lateralidade.

Oeste Leste

  • A "celebridade" da época é Henrique VIII, rei da Inglaterra, cujo guarda roupa era inventariado (sujeito fashion, suas roupas eram adornadas por pedrarias). Ele também adotava cores e recortes.
  • Estes, na verdade, têm origem em um "acidente bélico": roupas em frangalhos de legiões suíças foram "recheadas" com trapos de inimigos abatidos em combate a fim de afastar o friiiiooo. O "efeito" arrebatou o gosto estético do rei que inspirava "a massa".

(Na moda também, "... a vida tem sempre razão...")

  • Depois de tanta liberdade e glamour, anuncia-se uma fase ESCURA.
  • Época da contra reforma, da inquisição, da rigidez de cores e formas.
  • O ícone fashion da vez chama-se Carlos V, um rei espanhol übber sóbrio.

  • Sob sua influência, a moda adota cores escuras, acolchoados, tricots e imobilidade.
  • Altivez: sobre a gola do gibão, aparecem os rufos (privilégio aristocrático masculino, sedução e status femininos).

  • Para elas, o corpete (nosso "fetichista" corset?) em "V" que achata os seios e o abdomen, símbolo da fertilidade; a esmoleira (bolsa "utilitária"?), a beca (overcoat?) e o farthingale (precursora da crinolina, estrutura de roupas revisitadas recentemente por, por exemplo, Dame Vivien Westwood).

  • Depois deste renascimento revolucionário feito de "ups e down", a moda vê-se... Barroca.

  • O século XVII é o tempo do drama, do exagero!
  • O retorno da difusão da fé pós antropocentrismo é regido pelo "direito divino do rei".
  • A silhueta desconstrói-se.
  • O novo ícone é um herói da guarda real que usa um chapéu adornado com 1 pena e tudo o mais: o "mosqueteiro".
  • Para as mulheres, a cesta básica carrega maquiagem e uma novidade nos cabelos: o fontange.

  • Os homens continuam de calção, meias e gibão (agora mais curtos), mas no lugar dos claustrofóbicos rufos, adotam o "rabat", um lenço elegante e fresco, versão masculina dos fichus.
  • O estilo Barroco é sucedido pelo Rococó, uma moda "OVER"!

  • No começo do "Rococover" (1745/1770), sob o reinado de Luis XV, pessoas e roupas são adornadas com conchas, pedras e plantas (período precursor do Art Nouveau?).
  • A etiqueta (à mesa, inclusive e principalmente) impõe-se: viva à civilidade!
  • Chegamos à sociedade de Corte, via Versailles.
  • Etiqueta social, lógica das aparências...

O belo é artificial!

  • Nesta época, revoluções (industrial - têxtil, inclusive- americana e francesa) mudam de novo a história. E, consequentemente, a moda.
  • Tecidos sofisticados, período rico no vestuário feminino: roupas claras, fluidas, maquiagem, cabelo empoado, flores (muitas flores) e... volume.
  • Volume criado pelas "paniers", ancas artificiais "sem necessidade de intervenção"!

  • A moda bucólica burguesa inglesa influencia sensivelmente, garantindo, definitivamente, que tudo, mais uma vez, asseguradamente, seria diferente.
  • Roupas simples, robes abertos e "fichus" (lencinho colocado sobre o colo, cuja função é velar o "cache cour").

  • A Revolução Francesa traz uma nova estética.
  • Pós Maria Antonieta, o mito da vez chama-se Napoleão Bonaparte.
  • As cores fashion são as 3 cores da nação.
  • Em faixas e rosetas a moda é bleu, blanc, rouge!

  • No vestiário masculino, chega de calças curtas, é tempo dos sans culottes!
  • Nos pés femininos, sapatilhas.
  • Afinal, algum item da moda tinha a obrigação de manter os nossos pés... no chão.

Imagens: Google

abril 25, 2010

Mistura Íntima

  • "Private Blend" é o nome da nova coleção de batons (são 12 cores, de "camurça baunilha" a "orquídea negra") assinada por Tom Ford.
  • Na indústria fashin, Ford é mestre em peças publicitárias "calientes"...


Este é o "cereja exuberante"


“Não existe acessório mais dramático do que um lábio perfeito.

É o foco do rosto e tem o poder de definir o look de uma mulher."

Tom Ford

Ahimsa

  • Ao invés do processo primitivo, os fabricantes utilizam os filamentos produzidos pelo bicho da seda DEPOIS de estes deixarem seus casulos e, seguindo o ciclo da vida, tornarem-se borboletas.

berçário

  • O produto é uma alternativa ética à "velha seda".
  • Mantendo as características nobres da fibra como toque, frescor, maleabilidade, lustro...

  • Um produto luxuoso que vem encantando designers - e consumidores - exigentes e conscientes, gente que pensa... fora da caixa.


PS: "Ahimsa" em sânscrito significa não ferir ou evitar a violência.

Cabelo Louco

  • Fibra: material fino e alongado que pode ser contínuo ou cortado. Polímero natural ou artificial.
  • Cabelo = fibra natural de origem animal.

Lego Zoo

  • Espécies em perigo de extinção foram construídas - em tamanho real - com tijolinhos de Lego.

  • Artista: Sean Kenney.
  • Exposição: "Criaturas do Habitat".

Leãozinho 2010

  • Hoje é o último domingo para uma tarefa nada simpática: a declaração de IR.
  • O prazo final é 6ª feira, 30 Abril.
  • Tá com preguiça? Olha pra essa coisinha "brabinha" e anime-se.

Imagem: Info Plantão

abril 24, 2010

Vaidades...

MC
  • Tão bem traduzidas na lenda do Narciso, que movido a tanta auto admiração, morre ao mergulhar em sua própria imagem: o vazio.

C'est la vie!

  • "Vanités: de Caravage à Damien Hirst"
  • Em cartaz no Musée Maillol, até 28 Junho.
  • De Michelangelo Caravaggio (1571-1610) a Damien Hirst (1965).

DH

  • Em homenagem à exposição, a Chanel criou este lenço em edição limitada.

KL

  • Estampa: Coco Chanel face a face com uma caveira, tal qual o "Príncipe Hamlet".
  • Com humor, Karl Lagerfeld desenha a elegância, a vaidade e a humildade diante do "destino inevitável".
  • Vaidade: vício "transitório à luz da nossa própria mortalidade"...
  • Vida: presença e ausência, existência e esquecimento...

"Viver um século?

A borboleta que vive um dia

Terá vivido a eternidade."

T.S.Elliot

Eu uso Ócculos

  • Quadrado,

  • Redondo, oval

  • Aviador...

  • Em se tratando desses acessórios antiquíssimos, será que ainda dá para inovar?

  • Karl Lagerfeld mostra que sim!

  • Com 1 C pra lá, outro pra cá...


Coleção 2010 da Chanel.

abril 23, 2010

Gótico, Poesia à Beira do Caos

  • Recebi o vídeo de uma querida amiga - fala, Izildinha!
  • Vou logo avisando, é triste! Mas delicadíssimo.
  • É como se os "protagonistas" nos perguntassem:
  • E aí, vai desistir?
  • Assista e responda (baixinho, ninguém precisa ouvir):


E aí, vai desistir?

abril 19, 2010

Consumo: Desejo, Necessidade, Vontade...

1

  • Finalizando esta 2ª feira pré feriado - praticamente o final de uma semana que mal começou, mas que se encerra, primeiramente, como sempre, na área da educação ("isso aqui, oh, oh, é um pouquinho do Brasil ai, ai...") - aqui vai um ensaio que fiz sobre a diferença entre a sociedade de consumo e a cultura de consumo.
  • O artigo é longo (sinceramente, quase eterno), mesmo assim você terá tempo de sobra para lê-lo.
  • A não ser que prefira comer, rezar, amar, sabe-se lá!
  • Ou resolva desvendar "1001 lugares para ir antes de morrer" ou "1001 vinhos para beber antes..."...
  • É com você. Até mais e BOM FERIADO!

  • Consumo, do necessário ao supérfluo.
  • Consumo: necessidade, divertimento ou vaidade?
  • Consumo: motivação pessoal ou social?

O que é o consumo afinal, característica arraigada na sociedade ocidental cuja pujança foi acelerada com o nascimento da moda no século XIV?
Esta relação do homem com as coisas, o outro e si mesmo é objeto de análise de várias ciências sociais: economia, sociologia, antropologia, sociologia e psicologia.
Sob a luz da psicologia, o entendimento da relação dos agentes econômicos consigo e com o mundo exterior, recorre a uma ciência “irmã” – a psicanálise. Afinal, o consumo é um comportamento movido, no ocidente preponderantemente, por um instinto: o desejo.


“Há coisas que o dinheiro não compra; pra todas as outras, tem *****card.”
“O dinheiro não traz a felicidade: manda buscar.”
“Compre baton, compre...”
“Eu tenho, você não tem...”


As frases acima são exemplos de campanhas publicitárias nos últimos 20 anos.
As últimas 2 foram direcionadas ao público infantil.

  • A 1ª, “hipnótica”, a 2ª “pecadora” (ouça a soberba provocando a inveja).
  • A publicidade não é cristã.
  • Para “tentar” os “pobres” consumidores, usa e abusa dos 7 pecados capitais: avareza, gula, inveja, ira, luxúria, preguiça e soberba.
  • O que é uma propaganda de cerveja “à brasileira”?

Uma amostra da luxúria (“olha a boa”), da gula (“desce redondo”), da preguiça (que vem depois da “loura gelada”), mas pelo menos não peca pela avareza (“divide com os amigos”).


“Brasileiro é tão bonzinho!”


E quando a publicidade não tem nada a dizer sobre um produto, a imagem é acompanhada de slogans disconexos:


“Coca Cola é isso aí” ou “... é o que há.” (hein?)


Após esta introdução, analisemos o texto de Lívia Barbosa – “Sociedade de Consumo” – em busca das seguintes palavras chaves que lá aparecem:

  • Satisfação – necessidade – desejo;
  • Evolução do consumo;
  • Estilo de vida e identidade.

Comecemos completando esta frase:


“O consumo se relaciona à...


  • Satisfação: do que precisamos, do que queremos e do que nos “ensinam” que precisamos (no momento atual, quem não precisa de uma “eco bag”? Será que serve qualquer uma, ou apenas a “it” assinada por, por exemplo, Marc Jacobs?).
  • Necessidade: fisiológica, emocional e subjetiva ou... cultura coletiva? O que é um “objeto de desejo” além de uma vontade mutável, quase intransigente, adquirida na “última semana”?
  • Desejo: quanto mais Teocêntrica é uma sociedade, menor é a sua propensão a consumir (o consumo per se é “amigo” da luxúria, condenada moralmente); em contrapartida, quanto mais antropocêntrica a sociedade, maior o espaço ocupado pelo desejo, caminho para a “auto satisfação”.

Não à toa, a “sociedade de moda” sobrepõe-se à “sociedade de costumes” no início do século XV, que marca o final da Idade Média (ou das Trevas) e o início do Renascimento (resgate dos valores da Grécia antiga, como por exemplo a construção do corpo humano em toda a sua plenitude, como pode ser observado em pinturas da época).

É a idade da Razão.

  • Mas será mesmo que além da ciência, a razão humana consegue racionalizar sobre o que move a humanidade?
  • Como seres racionais podem ser guiados por processos inconscientes?

“Somos animais” como Darwin afirmou, logo agimos por instintos, mas esta “verdade inconveniente” só foi revelada por Freud, no final do século XIX.

  • A música “Comida”, dos Titãs, ilustra a dicotomia entre a razão e o instinto, nossas matérias primas, a última gozando – injustamente – de um status menor.
  • Ela “canta” a evolução do consumo, questiona estilos de vida (impostos aos menos favorecidos) e questiona a busca por uma identidade cultural embargada pela “desinclusão” social.

3

Desejo, necessidade, vontade, necessidade...


"Bebida é água Comida é pasto Você tem sede de que? Você tem fome de que? A gente não quer só comida, A gente comida, diversão e arte A gente não quer só comida, A gente quer saída para qualquer parte A gente não quer só comida, A gente quer bebida, diversão, balé A gente não quer só comida, A gente quer a vida como a vida quer Bebida é água Comida é pasto Você tem sede de que? Você tem fome de que? A gente não quer só comer, A gente quer comer e quer fazer amor A gente não quer só comer, A gente quer prazer pra aliviar a dor A gente não quer só dinheiro, A gente quer dinheiro e felicidade A gente não quer só dinheiro, A gente quer inteiro e não pela metade "

  • A quebra do modelo sócioeconômico feudal e o aparecimento da burguesia marcaram o início da era das aparências, da “moda de corte”, da imitação de símbolos que garantiriam a diferenciação, o status e a gratificação por “pertencer à elite”, afinal esses valores, já se sabia à época, “o dinheiro não compra”.
  • De outro lado, os nobres sem cacife, para dar continuidade a seu “estilo de vida” começaram a ser financiados pelos “emergentes” burgueses, que os copiavam. Coube à “elite” recorrer à mudança pela mudança, sucateando ainda não programadamente, o útil. Afinal, de que serve o que todo o mundo tem? Desejo, necessidade ou vontade?
    A cultura de consumo buscava através das coisas e dos modos distinguir-se. Na superficialidade da aparência, uma busca pela identidade perdida (o que era ser nobre afinal, àquela altura do campeonato?).
  • Que tal usar um rufo, que quanto maior mais deixava o “nariz empinado” (literalmente)?
  • Ou calçar belas (mas desestabilizadoras) “choupines” – que demandavam à usuária apoio extra (a cabeça dos serviçais, por exemplo)?

A história das sociedades fornece pistas para que entendamos a cultura de consumo contemporânea ocidental: mudamos para nos distinguir de uns e nos aproximar de outros: os “eleitos” como iguais ou como “ícones”.
Nesta corrida pelo ideal, as “celebridades” desempenham um papel importante na venda de desejos (por novas identidades?).

  • Tintura de cabelo, esmalte, desenho de sobrancelha, mililitros de silicone, vestuários, férias, shows, desodorante, sabão em pó, carros, causas humanitárias, ecológicas, candidatos políticos, relógios, bolsas, moral e solidariedade (adoção de crianças, por exemplo).
    Via mídia, objetos e comportamentos “célebres” são propostos. Quem resiste? Alguns, não todos.

A cultura do estilo de vida das celebridades poderia ser comparada à adoração pelo “modus vivendi” da nobreza pela burguesia? Será que a sociedade é um conjunto em evolução ou apenas variações de si mesma?
A partir da revolução industrial, o consumo inicia um processo de massificação. Talvez, sob o prisma da elite da época, essa fosse uma forma de “pirataria” que decretava, de certa forma, o fim do “exclusivo”.
A “lógica das mudanças menores” concretiza-se no início do século XX via:

  • o surgimento das lojas de departamento,
  • o crédito direto ao consumidor (criado por Aristide Boucicaut, dono do Bon Marche),
  • o “self-service”
  • e a vitrine com manequins voltados para o caminho público abriram alas para que o desejo estivesse ao alcance de muitos olhos – e muitas mãos.

A partir da década de 80, a sociologia estuda o consumo como cultura social. Diferencia a sociedade de consumo (“estática”, “patinada”) da cultura de consumo (“dinâmica”, onde celebra-se o presente).
Contemporaneamente, a cultura de pátina existe, porém não é a reverência à tradição que a referenda: ter o antigo auxilia a construção da identidades, diferencia o sujeito de seus contemporâneos, torna-o único, “exclusivo”.

  • O “consumo de pátina” torna-se “moda” (como os estilos “hi low” e “boho chic”, iconizado pela atriz Sienna Miller).

A busca pela diferenciação – a novidade – mudou o fluxo de construção da moda: é o “bubble up” (das ruas à passarela) e não mais o “trickle down” (dos ateliers ao consumidor) a fagulha inspiradora dos estilistas, a partir da década de 60. O fenômeno torna-se evidente nos 70 (moda “hippie”), na pop art, nos grafites (hoje, arte, ontem vandalismo), no rap, no funk, tudo tão diferente quanto as diversas “tribos urbanas”.

  • Hoje, há modas, ou, como escreveu Ted Polhemus há décadas...
  • ... vivemos um “Supermercado de Estilos”.

Mas como “a moda fala”, enquanto alguns constroem seu próprio discurso (visual) repleto de significâncias, outros mimetizam identidades alheias, mudando muito e sempre, quase aleatoriamente.
Da cor do esmalte ao jeans modelo “boy friend” ou “skinny”.
As “nobres celebridades” agradecem.


Imagens:

  1. "Suite Desire" - Pino Daeni